quinta-feira, 18 de maio de 2017

#EntrevistaLiterária - com Ernani Lemos

       Já faz algum tempinho que não posto nenhuma entrevista né hahahha, mas esse mês voltei trazendo um autor mais que especial! Já tenho parceria com ele há algum tempo e ele é fantástico! Os livros dele são incríveis, vale conferir. 

1.      Quando você decidiu que queria ser escritor?

Essa pergunta é ótima para desfazer o que eu considero um mito. Acho difícil que alguém decida ser escritor. Você pode decidir ser médico ou advogado ou engenheiro e, para isso, estudar muitos anos. Para ser escritor, basta escrever. Se você tiver o mínimo de talento, em algum momento o seu texto deixa de ser tão ruim e então um público começa a ler. Penso que é o leitor que decide criar ou não um escritor.

2.      No momento, você está escrevendo ou já tem alguma ideia para um próximo livro?

Tenho muitas ideias, mas agora trabalho seriamente em três. A mais adiantada é um romance bem diferente que comecei a escrever assim que publiquei Onze Semanas. A primeira versão ficou pronta em três meses. Isso foi há dois anos. Desde então, já reescrevi tudo várias vezes. Gosto muito da história, mas ainda não estou satisfeito. Os outros dois rascunhos estão caminhando bem. Espero ter novidades em breve.

3.      Quem foi a primeira pessoa a quem você mostrou seu livro?

Minha mulher. Sempre. A coitada lê não apenas os originais prontos, como também as várias versões deles. O mais importante para mim é mostrar os rascunhos dos primeiros capítulos. Se ela conseguir parar de ler ou olhar para o lado ou suspirar, eu sei que não presta e começo tudo de novo.

4.      Tem um pouco de você em algum personagem? Você se inspirou em alguém para criá-los?

Acho que tem um pouco de mim e de todos que eu conheço em cada um dos meus personagens. Até as personalidades ruins são baseadas nas minhas experiências reais, no que eu considero certo e errado. Escrever ficção é um ato de imaginar a realidade com outros nomes, em outra época, num diferente lugar e com outros finais. Mas isso não significa que o escritor necessariamente copie algo que existe. Em Onze Semanas, eu conto a história de uma mãe e uma filha que estão brigadas há 16 anos. Quase todas as minhas amigas brigam com suas mães, então obviamente eu me inspirei nisso inicialmente, mas a trama do livro não tem nada a ver com a vida de nenhuma delas. Já em Sobre os Outros, que é um livro de crônicas sobre pessoas que encontrei pelo mundo, tudo é fato.

5.      Qual o seu sonho enquanto escritor?

Que minha tendinite desapareça. Houve períodos em que precisei fazer acupuntura para seguir escrevendo. O resto, está ótimo. Minha cabeça funciona bem e tenho ao meu redor pessoas maravilhosas que se dispõem a ler e criticar o que escrevo.


6.      Tem alguma obra literária que te marcou? Fale um pouco sobre o Ernani leitor.

Muitas! Na infância, a escola pública onde eu estudei em São Paulo me deu acesso à coleção Vagalume e acho que foi lá que comecei a amar esse negócio de leitura. Eu devorava várias vezes Os Barcos de Papel, O Escaravelho do Diabo, A Turma da Rua Quinze, entre outras obras juvenis de ótimos autores brasileiros. Dos clássicos, eu me maravilhei com Capitães da Areia, Dom Casmurro e Amor de Perdição. Voltei a esses livros muitas vezes, ainda na adolescência, para ver se meu coração doeria de novo no meio da leitura. Também li mais de uma vez O Dia do Curinga, uma obra sensacional do norueguês que escreveu O Mundo de Sofia (do qual gosto menos). Crime e Castigo me ensinou que era possível colocar em palavras toda a profundidade da miséria humana. E desde que vim morar na Europa, fiquei fascinado com as obras extremamente simples de um nipo-britânico, Kazuo Ishiguro. Tem um livro dele que eu recomendo muito - em português deve se chamar Não me Abandone Jamais. É incrível. Uma história não tem nada a ver com a outra, mas, por algum motivo estranho, quando escrevi Onze Semanas eu só pensava nele.

7.      Como surgiu a sua primeira obra literária?

Eu literalmente sentei e escrevi. Tinha na época, como tenho agora, uma porção de ideias. Então escolhi a que estava martelando mais forte e comecei a dar forma. Tem uma coisa mágica sobre escrever que é o seguinte: depois de um tempo, a história ganha vida, os personagens passam a ser pessoas de verdade e te ajudam a seguir em frente. Eles aparecem nos sonhos, resolvem problemas, criam outros, e te fazem acordar constantemente no meio da madrugada para anotar tudo.

8.      Faz algum ritual antes de escrever?

Claro, eu como muito! Às vezes chego a tomar café da manhã três vezes enquanto escrevo. Meu horário de escrever é de manhã, geralmente por volta das 4, 5, 6... quando a cabeça está fresquinha, livre de preocupações. Só que eu acordo com muita fome, então simplesmente encho a barriga e sento para escrever. Não tem mais nada.

9.      Qual livro seu que você mais se identifica?

Aquele que comecei a escrever depois de Onze Semanas e ainda não foi publicado. Eu vivia uma época de muitas dúvidas sobre o mundo e fui colocando várias delas dentro dos personagens. Foi uma terapia escrever aquele livro. Talvez eu ainda demore alguns anos até soltá-lo por aí, mas um dia ele sai.

10.  Deixe um recado para seus leitores


Fale comigo! Fale com qualquer autor de uma obra que você leu (se ele já tiver morrido, aproveite para ler também algo de alguém vivo). Comente, critique, pergunte. Nós vivemos num tempo maravilhoso que permite essa comunicação imediata e isso é a única coisa que faz valer de verdade todo o esforço de escrever. O resto é bobagem. Quem escreve só quer ser lido - e cada leitor é um público completo, é uma missão cumprida.


 Bom gente, foi isso. Eu, particularmente, adorei essa entrevista, adorei as respostas do Ernani! hahaha 
 Agradeço a você, Ernani, por ter topado participar e ter respondido com tanto carinho a essas perguntas <3 
 ...e antes de acabar venho aqui mais uma vez pedir a vocês para valorizarem mais a literatura brasileira e os nossos queridíssimos autores, eles são maravilhosos gente! Tem cada livro incrível!! Tem cada talento escondido nesse Brasilzão!! Vamos valorizar, galerinha! #leiaumnacional

Um comentário:

  1. Obrigado, Rafa! Foi um prazer participar. E parabéns de novo pelo blog. Beijos

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