Já faz algum tempinho que não posto nenhuma entrevista né hahahha, mas esse mês voltei trazendo um autor mais que especial! Já tenho parceria com ele há algum tempo e ele é fantástico! Os livros dele são incríveis, vale conferir.
1. Quando
você decidiu que queria ser escritor?
Essa pergunta é ótima para desfazer o que
eu considero um mito. Acho difícil que alguém decida ser escritor. Você pode
decidir ser médico ou advogado ou engenheiro e, para isso, estudar muitos anos.
Para ser escritor, basta escrever. Se você tiver o mínimo de talento, em algum
momento o seu texto deixa de ser tão ruim e então um público começa a ler.
Penso que é o leitor que decide criar ou não um escritor.
2. No
momento, você está escrevendo ou já tem alguma ideia para um próximo livro?
Tenho muitas ideias, mas agora trabalho
seriamente em três. A mais adiantada é um romance bem diferente que comecei a
escrever assim que publiquei Onze Semanas. A primeira versão ficou pronta em
três meses. Isso foi há dois anos. Desde então, já reescrevi tudo várias vezes.
Gosto muito da história, mas ainda não estou satisfeito. Os outros dois
rascunhos estão caminhando bem. Espero ter novidades em breve.
3. Quem
foi a primeira pessoa a quem você mostrou seu livro?
Minha mulher. Sempre. A coitada lê não
apenas os originais prontos, como também as várias versões deles. O mais
importante para mim é mostrar os rascunhos dos primeiros capítulos. Se ela
conseguir parar de ler ou olhar para o lado ou suspirar, eu sei que não presta
e começo tudo de novo.
4. Tem
um pouco de você em algum personagem? Você se inspirou em alguém para criá-los?
Acho que tem um pouco de mim e de todos que
eu conheço em cada um dos meus personagens. Até as personalidades ruins são
baseadas nas minhas experiências reais, no que eu considero certo e errado.
Escrever ficção é um ato de imaginar a realidade com outros nomes, em outra
época, num diferente lugar e com outros finais. Mas isso não significa que o
escritor necessariamente copie algo que existe. Em Onze Semanas, eu conto a
história de uma mãe e uma filha que estão brigadas há 16 anos. Quase todas as
minhas amigas brigam com suas mães, então obviamente eu me inspirei nisso
inicialmente, mas a trama do livro não tem nada a ver com a vida de nenhuma
delas. Já em Sobre os Outros, que é um livro de crônicas sobre pessoas que
encontrei pelo mundo, tudo é fato.
5. Qual
o seu sonho enquanto escritor?
Que minha tendinite desapareça. Houve
períodos em que precisei fazer acupuntura para seguir escrevendo. O resto, está
ótimo. Minha cabeça funciona bem e tenho ao meu redor pessoas maravilhosas que
se dispõem a ler e criticar o que escrevo.
6. Tem
alguma obra literária que te marcou? Fale um pouco sobre o Ernani leitor.
Muitas! Na infância, a escola pública onde
eu estudei em São Paulo me deu acesso à coleção Vagalume e acho que foi lá que comecei
a amar esse negócio de leitura. Eu devorava várias vezes Os Barcos de Papel, O
Escaravelho do Diabo, A Turma da Rua Quinze, entre outras obras juvenis de
ótimos autores brasileiros. Dos clássicos, eu me maravilhei com Capitães da
Areia, Dom Casmurro e Amor de Perdição. Voltei a esses livros muitas vezes,
ainda na adolescência, para ver se meu coração doeria de novo no meio da
leitura. Também li mais de uma vez O Dia do Curinga, uma obra sensacional do
norueguês que escreveu O Mundo de Sofia (do qual gosto menos). Crime e Castigo
me ensinou que era possível colocar em palavras toda a profundidade da miséria
humana. E desde que vim morar na Europa, fiquei fascinado com as obras
extremamente simples de um nipo-britânico, Kazuo Ishiguro. Tem um livro dele
que eu recomendo muito - em português deve se chamar Não me Abandone Jamais. É
incrível. Uma história não tem nada a ver com a outra, mas, por algum motivo
estranho, quando escrevi Onze Semanas eu só pensava nele.
7. Como
surgiu a sua primeira obra literária?
Eu literalmente sentei e escrevi. Tinha na
época, como tenho agora, uma porção de ideias. Então escolhi a que estava martelando
mais forte e comecei a dar forma. Tem uma coisa mágica sobre escrever que é o
seguinte: depois de um tempo, a história ganha vida, os personagens passam a
ser pessoas de verdade e te ajudam a seguir em frente. Eles aparecem nos
sonhos, resolvem problemas, criam outros, e te fazem acordar constantemente no
meio da madrugada para anotar tudo.
8. Faz
algum ritual antes de escrever?
Claro, eu como muito! Às vezes chego a
tomar café da manhã três vezes enquanto escrevo. Meu horário de escrever é de
manhã, geralmente por volta das 4, 5, 6... quando a cabeça está fresquinha,
livre de preocupações. Só que eu acordo com muita fome, então simplesmente
encho a barriga e sento para escrever. Não tem mais nada.
9. Qual
livro seu que você mais se identifica?
Aquele que comecei a escrever depois de
Onze Semanas e ainda não foi publicado. Eu vivia uma época de muitas dúvidas
sobre o mundo e fui colocando várias delas dentro dos personagens. Foi uma
terapia escrever aquele livro. Talvez eu ainda demore alguns anos até soltá-lo
por aí, mas um dia ele sai.
10. Deixe
um recado para seus leitores
Fale comigo! Fale com qualquer autor de uma
obra que você leu (se ele já tiver morrido, aproveite para ler também algo de
alguém vivo). Comente, critique, pergunte. Nós vivemos num tempo maravilhoso
que permite essa comunicação imediata e isso é a única coisa que faz valer de
verdade todo o esforço de escrever. O resto é bobagem. Quem escreve só quer ser
lido - e cada leitor é um público completo, é uma missão cumprida.
Bom gente, foi isso. Eu, particularmente, adorei essa entrevista, adorei as respostas do Ernani! hahaha
Agradeço a você, Ernani, por ter topado participar e ter respondido com tanto carinho a essas perguntas <3
...e antes de acabar venho aqui mais uma vez pedir a vocês para valorizarem mais a literatura brasileira e os nossos queridíssimos autores, eles são maravilhosos gente! Tem cada livro incrível!! Tem cada talento escondido nesse Brasilzão!! Vamos valorizar, galerinha! #leiaumnacional
Obrigado, Rafa! Foi um prazer participar. E parabéns de novo pelo blog. Beijos
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